Outro poema sobre a morte de um soldado, que também foi referido como possível elo intertextual com "Grass", de C. Sandburg.
"Adormecido no Vale"
É um vão de verdura onde um riacho cantaA espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.
Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.
Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.
E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.
Arthur Rimbaud
Tradução do poeta Ferreira Gullar